quarta-feira, 15 de julho de 2009

A CULTURA DE BAIXA GRANDE

A CULTURA DE BAIXA GRANDE


Antônio Martins Soares Santana
Estudante de Historia
Faculdade Leonardo Da Vinci -UNIASSELVI
Santa Catarina
14/06/09





RESUMO


Um povo se perpetua na historia pela força de sua cultura. Ela representa o espirito, a identidade, o vigor e a expressão de seu povo e de sua região. Cada região e cada povo têm a sua própria manifestação cultural, por isso, nenhum grupo social, ou melhor, nenhuma cultura tem maior importância que outra. E quando isto não é respeitado, poderá ocorrer uma ditadura etnocêntrica.


1 INTRODUÇÃO


O objetivo desse trabalho é apresentar um estudo sobre a importância de se resgatar as manifestações folclóricas e culturais do povo baixagrandense, as quais, ao longo dos anos e talvez, por força da globalização e do capital vem sofrendo um esquecimento por parte da população. É por conta de todos estes problemas, que o povo vem sendo aculturado, sofrendo uma imposição cultural de salvador, que apesar de ser a Capital de nosso estado, possui uma cultura que em alguns aspectos se difere da nossa. Pois, aquela pertence à região do recôncavo baiano, enquanto a nossa, pertence à região sertaneja, mas sobre tudo, ao portão da chapada diamantina.


2 HISTÓRICO DE BAIXA GRANDE.

Baixa Grande nasceu na Fazenda Cais, a qual faz limite com o município de Ipirá, antigo Camisão.

A fazenda, Cais, pertencia à dona Ana Ribeiro Soares, esposa de Manoel Ribeiro Soares, cujo casal era poderosos fazendeiros se destacando na região como proprietários de escravos. Dona Ana era muito devota de Nossa Senhora da Conceição, e por conta de sua devoção, influenciou os valores religiosos em toda sua família, valor que levou um de seus filhos a construir uma capela, na rota da estrada boiadeira que ligava a região à Capivari, (Macajuba), Monte Alegre (Mairí), Mundo Novo e Morro do Chapéu. Como a capela de nossa Senhora se situava em uma região estratégica, geograficamente falando, pois nesta localidade passavam os vaqueiros conduzindo o gado para Juazeiro, Senhor do Bonfim, Capim Grosso, Morro do Chapéu e Lençóis, terra do Cel. Horário de Matos foi surgindo em torno da capela um ponto de venda, para que os viajantes pudessem comprar mantimentos para as longas viagens. É obvio que não faltava uma cachacinha, lógico.

Com o passar do tempo o pequeno ponto de venda foi se tornando um povoado que se tornou a imponente Baixa Grande. É oportuno salientar que nesta região se destacaram três coronéis, Horácio de Matos, Francolino de Monte Alegre (Mairí) e Cel. Madureira de Ipirá, os quais com certeza comercializavam entre se, tornando a estrada boiadeiro movimentada na rota do gado.

Baseado neste relato pode afirmar que os primeiros habitantes de Baixa Grande eram
Pessoas simples que desenvolviam a profissão de vaqueiro e agricultor. Porem, com o desenvolvimento do comercio, - pois a localidade contribuiu para o crescimento desta atividade devido ao cruzamento que ligava duas regiões importante, a Chapada diamantina ligando-se à lençóis, cidade que na época atraia europeus para exploração do diamante, e Juazeiro e Senhor do Bonfim região sertaneja que também na mesma ocasião fazia ligação com lençóis na comercialização principalmente do gado, colocando nesta mesma rota do comercio, Cachoeira, que era a cidade mais importante na ligação comercial com Salvador.- muitas famílias de comerciantes e outras atividades foram se radicalizando na cidade.

Naquela época, a agricultura e o comercio atraíram muitas famílias ilustres para o pequeno, vilarejo, cujas famílias desenvolveram a cultura local da cidade. Uma das primeiras a chegar em B. Grande foi à família Pamponett, a qual ainda possui muita influência na vida social da cidade. Segundo o senhor Adaíicio Pamponett, descendente deste ramo familiar, em entrevista a este narrador, disse o seguinte: (em 17/06/09).

Segundo narrativas dos seus antepassados, os primeiros imigrantes da referida família foram: Antônio Francisco Pamponett e João Francisco Pamonett, os quais chegaram a Baixa Grande, oriundos da França, após uma guerra na Europa, e que ambos radicalizaram-se na região de B. Grande e Ipirá, antigo camisão. Aida na entrevista, segundo o senhor Adalicio, Antônio Francisco Pamponett, tomou como uma de suas mulheres, uma escrava, a qual o entrevistado não se lembra do nome, e que desta união deu-se inicio ao ramo da família Pamponett na região.


Outra família que se radicalizou na região foi a Miranda, que no fundo no fundo, há um certo grau de parentesco com a Pamponett. Durante muitos anos estas duas famílias disputaram a hegemonia política da cidade, mas, uma cidade não é formada apenas por duas famílias, porém, por varias. É isto que aconteceu, diversas outras foram se achegando, atraídas pelo comercio, e chegaram-se à B. Grande, a família Boaventura, Sabino, Carneiro, Queiroz, Carneiro, Sousa, Marinho, Calunga, Más também, vieram outras mais simples, algumas oriundas das roças, e que contribuíram, também para a formação da cultura popular.

3 A CRIAÇÃO DA FILARMÔNICA 5 DE MARÇO

Como era de costume, em toda cidade se organizava uma filarmônica. Estas filarmônicas eram responsáveis pelas festividades das cidades, continuando assim em diversas regiões, como é observado no recôncavo baiano e em diversas outras cidades do sertão e chapada diamantina. As filarmônicas, também conhecidas por furiosas, tornavam parte nos festejos, e ainda continuam fazendo as festas das cidades ficarem mais alegres, em todas as comemorações marcantes, quando surgia uma oportunidade, lá estavam e estão elas, envolvendo em seus acordes as comemorações, principalmente nas festividades de padroeiros.
Eram de costume, e ainda continua sendo, estas filarmônicas tocarem em festas de casamento, aniversários e outras comemorações de seus sócios e de pessoas ilustres da cidade. Com Baixa Grande não seria diferente. Os integrantes das familias de destaque da cidade se reuniram e organizaram de imediato a sua admirável banda de musica que fucionava também como o seu clube recreativo. Até o momento não temos uma informação histórica precisa de quem presidiu aquela reunião, e em que data foi. Talvez nos arquivos de seu Miranda, que foi aluno da escola de musica daquela memorável filarmônica, possa encontrar alguma referencia. Aproveito a oportunidade de fazer referencia ao saudoso Sr. Miranda Miranda e dizer que tenho arrependimento de não ter aproveitado a sua presença quando em vida para ter pesquisado sobre estas fontes histéricas, as quais foram levadas com ele para o seu túmulo, ficando nós com a sua perda, pois era ele uma pessoa ilustre e um verdadeiro arquivo vivo de nossa historia. Mas lembro-me que quando tocávamos na festa de Nª Senhora da Conceição, em 08/12/2005, Com a filarmônica União de Feira de Santana, fizemos uma homenagem a seu Miranda e com lágrimas nos olhos, nos mostrou o seu caderno de musica contendo as suas primeiras lições, dessa maravilhosa arte, que segundo ele, na época o professor de musica era um padre da cidade. Retornando ao histórico da fundação da filarmônica de Baixa Grande, aquela reunião, ocorrera em um dia de 05 de março de aproximadamente 1912. O nome escolhido para a filarmônica foi exatamente FILARMÔNICA 05 DE MARÇO, data de sua fundação. Ela nos deixou de lembrança desse fato histórico o clube 05 de março da cidade o qual era da furiosa filarmônica baixa-grandense. Os filhos da terra precisam conhecer este fato histérico marcante e cultural de nossa cidade. Foi a filarmônica que deu inicio á cultura da musica mais refinada de Baixa Grande, pois já existiam grupos de musicas folclóricas por aqui, principalmente as piegas e chulas, porém, foi a filarmônica 05 de março quem deu inicio ao carnaval baixa-grandense. Era ela que tocava a musica mais refinada nos casamentos, aniversários e nas grandes comemorações solenes. É importante salientar que grandes músicos tocaram nela, destacando-se como clarinetista, seu Maroto, pai de dona Dare do barracão, Cantalicio clarinetista, que era irmão de Maroto, Bebeto do Pirajá, trompa de harmônia, mas também foram músicos dela, Bianor Pamponett, clarinetista, Miranda, clarinetista, Bejamim Surdo, tubista, Nunes, trombonista, pai de Jerson Nunes e outros. Segundo João Miadé, um musico da época, e que conhecei em Ipirá em 1985, quando lá ensinava musica, me contava que muitas das vezes as filarmônicas de Ipirá se encontravam com a 5 de Março de Baixa Grande, e era temida pelos músicos de Ipirá, pois os músicos da furiosa 5 de Março eram bem ensaiados e afinados. Ele me informou ainda, que algumas vezes eram promovidos encontros de filarmônicas ou às vezes eles eram convocados para reforçá-la em algumas tocatas de grande porte, em que se deslocavam para Baixa Grande montados a cavalos. Outro musico que tive a oportunidade de conhecer ainda tocando, mas com muitos anos de vida, foi José Ferreira, o qual tem um filho musico que é um dos saxofonistas da orquestra de Roberto Carlos cantor, ele, José ferreira, foi um dos Maestros que passou pela memorável 5 de Março baixagrandense..

Era aquela brilhante filarmônica quem tornava o espírito da cidade alegre e festivo. Quero dizer que este espírito festivo nunca deixou totalmente os seus filhos, pois sempre continuou na semente dos músicos de nossa cidade alguns discípulo do saudoso Maroto, como foi, Bento Santana, Marrom, Patica, Zilton, filho de Maroto, João Vermelho, João pra tudo, Ulisses, Valdenor e outros, que continuaram mantendo aquela chama musical acesa.

Continuando esta narrativa, em 1978, o senhor Maroto veio, de Itabuna cidade para onde tinha se mudado com sua família, para Baixa Grande, com o intuito de reerguer a antiga filarmônica a tantos anos desativada. Chegando aqui, procurou o prefeito da época, Evandro Miranda, no esforço de juntamente com os poderes púbicos da cidade reerguerem a famosa 05 de Março. O prefeito na época até tentou fazer sua parte para a concretização dos sonhos daquele velho apaixonado pela sua banda de musica. Mas, não conseguiram os instrumentos musicais e então o velho professor retornou á Itabuna contristado. Entretanto, o seu esforço não foi em vão, pois, dos alunos daquela época se destacaram dois, Afrânio S. Santana, hoje Tenente da Briosa PEMBA, saxofonista, e Antônio Martins, o famoso capelão, hoje maestro conhecido no estado por maestro Martins, o qual já foi maestro das Filarmônicas de Ipirá, Irará da banda da igreja Assembléia de Deus de Feira de Santana, Serrinha, União Musical, foi também, professor de musica de Mundo Novo e hoje ensina música em sua terra, Baixa Grande, pois o bom filho sempre retorna à sua terra.
Na história da musica em Baixa Grande foram destaques, Bento Santana e Antônio apelidado por Marrom, esses, embora sendo filhos de Ipirá, se radicalizaram na cidade na década de 1950, e por aqui constituíram famílias. Ambos movidos pelo espírito musico, e como bons discípulo de seu Maroto, criaram duas grandes bandas musicais as quais fizeram grande nome em todo o estado da Bahia elevando o nome de Baixa Grande como terra de bons músicos. As bandas foram: BS7, que significava, Bento Santana e os seus sete músicos, e mais tarde Marrom juntamente com Luiz Américo, Vilson Cabeleireiro, e Getulio de Flandú, fundaram a banda MUSIPOP. Essa ultima fez grande sucesso em todo estado, na década de 1970 à 1980.

4 DIA 8 DE DEZEMBRO

O dia oito de dezembro era a festa mais importante da cidade. Era a data em que se comemorava o dia da padroeira. A festa era comemorada com um espírito altamente religioso, vinha turista de diversas regiões prestigiarem o dia de Nossa Senhora da conceição, muitos feirantes armavam as suas barracas aproveitando o movimento dos devotos, para venderem suas mercadorias. O jardim da cidade era tomado por parque de diversão, fotógrafos se estalavam na praça para registrarem o momento marcante, as famílias faziam questão de exibirem as roupas novas, a festa virava um verdadeiro desfile de beleza.

As comemorações começavam no dia primeiro, de dezembro, se estendendo com as novenas até o dia oito, também chamado de belo dia. Cada dia homenageava uma classe, professores, políticos, profissionais liberais, mas o dia 7 ( sete ), era dedicado aos motoristas. Neste dia, ocorria às 10h da manhã, a lavagem das escadarias da igreja. No ritual, as baianas utilizando jarros de águas dançavam ao som da charanga,_grupo de músicos organizado por Bento Santana e Marrom, juntamente com músicos de Ipirá e Mundo Novo, que puxava o cortejo, tocando os conhecidos sambas de lavagem. Ainda alcancei um pouco dessa cultura popular, e lembro-me de professora Maria, Dadá de Flandú, Antônia Maricota, Alice de Tuta, Dissinha conhecida como, Dissinha de Aristeu, dona Dêse de Durval, Fia de Analice, Detinha, Marli, Maridalva, de Valdete, Tereza de Flandú, e muitas outras, vestidas de baianas sambando e lavando a igreja.
Também, fazia parte desse cortejo, Aristeu, que às vezes com o seu Bode adestrado, junto com ele, além de dançar fazia piruetas. No dia sete (7), à noite, tinha a passeata dos motoristas, que era organizada por, Juraci de Roseval, Zé de Dese, Zelitinho e outros motoristas da cidade. Não podemos cometer a injustiça de não nomearmos nesta relação, a figura alegre e cultural de Jagurarí, um cidadão que por aqui chegou, deixando as suas marcas na construção da cultura baixagrandense. Ele era um dos organizadores da famosa lavagem da igreja. A grande expectativa era a chegada do belo dia. Ao amanhecer do dia oito (8), a charanga de Bento Santana e Toi Marrom recebiam o dia às 04:30h, com a tão famosa alvorada, fazendo um verdadeiro arrastão de multidão na cidade. Essa cultura ficou tão entranhada na consciência coletiva de Baixa Grande, que se faltar a alvorada do dia oito, a população não fica satisfeita. O dia festivo terminava com a procissão no final da tarde. Quero lembrar que em época mais remota, quem tomava parte nesses festejos era a furiosa cinco (5) de Março, a grande filarmônica baixagrandense, que com a sua extinção passou a ser substituída pelos musicos remanescentes dela, os quais eram Bento, Marrom Zilton, Lourival, e muitos outros.

5 A FIGURA CULTURAL DE ANTÔNIA MARICOTA

Ao falar de Baixa Grande daquela época, não se pode esquecer-se de Antônia Maricota, pois, ela, na sua simplicidade, fez cultura nesta terra. Maricota era uma mulher de vida Livre quando mais nova, mas que, se envelheceu mantendo a sua vaidade. Já a conhecei bastante idosa, porém, lembro-me que ela só andava enfeitada com flores que pegava no jardim e colocava em seus cabelos. Em seus braços tinham todos os tipos de pulseiras, assim como as orelhas tinham diversas argolas. Simplificando Antônia Maricota era a Carme Miranda de B. Grande. Em todas as manifestações festivas e publicas lá estava a figura alegre e festiva de Maricota.

6 A FIGURA EXÓTICA DE DADÁ

Outra mulher que se destacou em nossa terra e que era parecida com a Carme Miranda baixagrandense. Era dona Dadá de Flandú. Uma mulher de espirito festivo que se arrumava de maneira bem exótica, com muitos enfeites e que sempre se envolvia nas grandes festividades da cidade. Não podemos nos esquecer dessas pessoas que construíram o folclore de nossa terra.
Nesta ocasião a cidade era bem pequenina, mas com certeza era mais alegre. O folclore era bem mais presente no dia a dia. Podemos perceber que estas pessoas fazem muita falta na vida de nossa comunidade.

7 A QUEIMA DE JUDA
O Juda faz parte do folclore em todo o nosso país, e em Baixa Grande não seria diferente. Durante muitos anos, a festa era organizada por Tatá, irmão de dona Alice mãe de Ângela. Ora! Quem das pessoas mais velhas de nossa cidade que não se lembra de Tatá conduzindo uma lista pedindo ajuda para construir o velho juda? Mas, o maior artista construtor de juda que já teve em nossa terra foi Marrom. Ele sabia construir um boneco bem parecido com uma pessoa para ser queimado no dia de sábado de Aleluia.

O juda era queimado após a leitura do testamento, um dia muito temido por quem tinham algum podre escondido. No seu testamento, o velho juda não perdoava ninguém, botava mesmo a boca no trombone, quem tivesse rabo de palha não se arriscava a se comparecer para ouvir a leitura do seu testamento, pois, o bicho pegava mesmo. Coisa maravilhosa estou escrevendo e me lembrando daqueles dias tão simples, mas éramos felizes. Ninguém era processado por calunia e difamação por isso, todos entravam no espirito da brincadeira. E é interessante, que da leitura do testamento do juda, sempre sobrava um apelide para alguém.

8 A MICARÊTA

Baixa Grande até 1930 fazia carnaval, mas, por se encontrar entre duas cidades que tinham uma festa carnavalesca muito forte, Mundo Novo e Ipirá, então deixou de fazer carnaval. Passados muitos anos sem comemorar o seu carnaval, um grupo da cidade se reuniu, e juntamente com Marrom, Bento, Dadá de flandú, o próprio Flandú, José do Inxú, Miguel Mascate, Zulima e outras moças de destaque da cidade, as filhas de Valdete, de Filipe, Flori foi, Antônio Jeremias, Patíca, Nivaldo surdo, Vanderlino, Bega, e muitos outros da família Miranda, Jaguararí, Aristeu e muitas outras pessoas da época, organizaram um carnaval fora de época denominado de micarêta, nome emprestado da micarêta de Feira de Santana.

As festividades foram animadas pela orquestra jazz, formadas pelo trompetista Bento e Marrom, que também organizaram um concurso de escola de samba, destacando-se como as favoritas da época, a Escola de Samba Indigina ensaiada pelo saudoso Zé boi, Mangueira, e a Escola Bata de Cigano, ensaiada por Chico, conhecido por Chico da luz. Até hoje muitos não aceitam o resultado daquele festival, pois, a mesa julgadora era composta pelos mais entendidos de musica na ocasião, Bento, Marrom, Vanderlino, me parece que João vermelho, e então o prêmio de 1º lugar foi dado à escola samba indigina de Zé Boi, porém ainda há participantes daquele concurso que afirma que a Bata de Cigano tocou melhor, mas que houve um mamié, espécie de pirataria, para o premio ter ficado com o velho Mangueira, ou seja, Zé Boi, pois este, era sobrinho de Bento Santana e Marrom.

Os bailes funcionavam no clube 5 de Março, que na época era próximo da cesta do povo, lado da prefeitura. Desta micareta temos fotos que comprovam a veracidade dos relatos. A experiência da micareta deu certo, se tornou uma festa muito forte em B. Grande, seu Miranda se empolgou a tal ponto que em 1969, trouxe o primeiro trio eleático. O famoso Tapajós, que ficou uma semana estacionada na Fazenda Tapete, sendo visitados todos os dias pelos moradores da pacata, mas alegre cidade. Desse evento ficou uma lembrança triste, pois no retorno do Tapajós para salvador, o trio elétrico virou, matando alguns musicos que por aqui tocaram a sua ultima festa. Vamos lembrarmos-nos deles.

9 A FIGURA MÍSTICA DO URSO

Não tem como falar do folclore baixagrandense sem falar do Urso, uma figura pavorosa que metia medo até mesmo nos adultos. Não se sabe ao certo quem criou essa manifestação popular, mas é provável que tenha sido, Tunga Antônio Novato, Chico da Luz, Simplicio e alguns outros.

O Urso era uma pessoa que se vestia com uma fantasia representando o animal referido, e que ficava todo lambusado de um material que era chamado de roxo terra, amarrado com uma corda pela cintura, puxado por um monstro e dois vaqueiros com espingardas tentando atirar no temível animal. Nas roupas de couro dos vaqueiros, tinham diversos objetos, entre os quais chocalhos, cabaças etc. Dizem que em certa ocasião, o Urso correu atrás do senhor Jonas Soares que com medo do bicho, correu para casa pulando a janela, só que o Urso pulou a janela da casa perseguindo-o até dentro da residência, o senhor Jonas não gostou da brincadeira. Pois o referido senhor se sentiu mal. Vejam que as pessoas eram tão simples que uma situação dessa era um caso de invasão de domicilio, um crime, porém, passado o susto, e explicado ao senhor em comento, tudo foi resolvido sem problemas. O motivo da brincadeira era ajuntar um dinheirinho, pois o Urso, ao ver uma pessoa que tinha uma condição financeira, se atirava aos pés, só deixando após uma gorjeta.

Parece que a fonte de inspiração dessa brincadeira, que terminou se enraizando no folclore popular da nossa cidade, era os contos que os antigos vaqueiros contavam das visagens, afirmavam que viam quando conduzia o gado à noite, uma assombração semelhante ao velho Urso. Principalmente ao passarem pelo famoso pé de laranjeira, o qual ainda existe no caminho da corrida e que nunca deve se arrancado, pois faz parte do nosso folclore, assim como o pé de chorão no Pirajá.

10 O BUMBA MEU BOI

Uma das manifestações popular mais esquecida em Baixa Grande tem sido o bumba meu boi. O bumba meu boi era a festa mais comum às raízes da cidade. Lembremos de que os primeiros habitantes de nossa cidade foi o vaqueiro. Essa festa era comemorada no mês de setembro na semana do folclore. O organizador do boi bumbá era Simplicio e João Barbosa, figuras importantíssimas, na formação cultural de nossa terra e que suas memórias precisam ser lembradas.

O bumba boi era uma fantasia representando o animal, em que dentro iam dois homens conduzindo a indumentário. Tangido por dois ou mais vaqueiros circulavam pelas ruas da cidade acompanhadas por um samba de roda.

11 SÃO JOÃO

A festa junina em Baixa Grande sempre foi simples mais bastante típica. É interessante, notificar que sempre houve um respeito democrático em relação ao São João de Baixa Grande e as Pedras. Lembro-me de que no final dos anos de 1960 a 1986, quem tocava o famoso e forte São João das pedras era a orquestra de Bento Santana e Antônio Marrom. Como a festa mais cultural de Baixa Grande é a Micarêta, os prefeitos sempre se resguardaram de não fortalecer o São João da sede do município, para não prejudicar os festejos juninos de Italegre. Inclusive quero aproveitar a oportunidade para registrar que foi no são João de Italegre que iniciei a minha carreira como musico. Como aquele São João nos deixou tantas recordações.

Voltando ao tema inicial, não podemos falar de São João em Baixa Grande sem falar de Antônio Jeremias, Cinê, Judicael Pedreiro, Lelê, Tunga, Pedro Fogueira, Aguinelo Fogueira, João Fogueira e muitos outros. Mas é necessário dedicar um comentário em especial à figura que marcou essa festa típica em nossa cidade. Pode se afirmar que por muitos anos São João em Baixa Grande, era o São João da casa de Jeremias, e quem contesta isso? Ele, inspirado na guerra de espada de Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus, implantaram a tradição aqui em nossa terra. A fogueira de Jeremias para ser comida tinha que ser disputada até o ultimo instante. Pois, era travada uma verdadeira guerra, onde os guerreiros vestidos de roupas de vaqueiros adentravam ao fogo cruzado arriscando um premio. Que maravilha, valeu Jeremias, você deixou a sua historia registrada no espírito de Baixa Grande para toda a eternidade. Mas gostaria de deixar registrado que em Baixa Grande tinha muitos fogueteiros, pessoas que dominavam a arte de fazer fogos de artifício. Destacando-se como fogueteiros, Dona Dulce, mãe de Le lê, o próprio Lelê, Zeca fogueteiro, Laureano irmão de Bento Santana, Antônio Marrom e outros. Muitas das vezes Jeremias encomendava as suas espadas às vezes nas mãos de Lelê, pois dizia ele, que as suas espadas poderiam ser soltas com a boca, sem que tivesse o perigo de dar chabú. A nossa historia cultural é muito rica.

12 CONCLUSÃO

Com base nesses fatos históricos fica evidente que se faz necessário, investir politicamente no resgate de todos os movimentos culturais de nossa cidade. Pois, além de preservarmos os nossos valores regionais, típicos de nosso povo, estaremos mantendo as manifestações populares em evidencia, para que as gerações mais novas não percam as suas origens. Além disso, cultura é entretenimento, e entretenimento hoje é o negocio que mais gera renda no mundo globalizado.

Gostaria de ver as nossas micaretas todos os anos, não com os grandes trios eleáticos de salvador, mas como era antes. Feitos com os nossos próprios artistas da terra. E com a participação do povo, e não por um grupo da mídia. Veja se Salvador não valoriza o seu folclore, e seus artistas? Investir na cultura local é abrir-se para o turismo, e turismo gera renda para toda cidade. Pensemos nisso. Pois a mercadoria turística é o próprio folclore popular, e isso nós temos de sobra com muita riqueza, só precisa de ação.

12 REFERÊNCIAS

HISTORIA DA CIDADE, Sobre Baixa Grande. Disponível em: 19/06/09
http://www.citybrazil.com.br/ba/baixagrande/historia.php

MIADÉ, João. Em entrevista concedida a Antonio Martins Soares Santana, em 1985.

PAMPONETT, Adalicio. Em entrevista concedida a Antonio Martins Soares Santana, em 17/06/09








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http://www.citybrazil.com.br/ba/baixagrande/historia.php

8 comentários:

  1. Não sei se vc ainda ler , ou se sou o pimeiro a comenta no seu blog, porem estudando para o concurso sobre os aspectos socios culturais da cidade de Baixa grande achei seus relatos que foram de grande valia.

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  2. bom dia tambem estou fazendo esse concurso e acho que esses relatos vao me ser de grande valia.


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  3. na quarta linha, do tópico 2, fala que Manoel Ribeiro Soares é marido de dona Ana ribeiro soares, acho que tem um pequeno equivoco, por que Manoel ribeiro soares era o filho dela, o qual era coronel da Guarda Nacional.

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    1. NOSSA! LENDO AQUI A HISTORIA DA CIDADE E AQUI DIZ QUE MANOEL RIBEIRO SOARES ERA FILHO DE DONA ANA SOARES.

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  4. Gente estou perdida pq tenho 16 questoes para estudar sobre baixa grande e não estou encontrando tudo 🤦

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    1. você já recebeu as questões que vai cair no concurso também ?

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  5. Gostaria de corrigir o texto que fala sobre o Senhor Manoel Ribeiro Soares, dizer que pelos dados do Livro Vida de Baixa Grande o referido Senhor não era marido, porém, filho da Senhora Ana Ribeiro Soares, removendo as dúvidas históricas, um pedido de desculpas pelos dados equivocados. Faltava a informação trazida pelo referido livro, A Vida de Baixa Grande, (AZEVEDO, Judith Soares de Souza. p. 8, 2021)

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  6. Salientar que quando o histórico foi escrito no Blog não tinha os dados claros das informações históricas trazidas peloo Livro "Avida de Baixa Grande". Editora Quarteto 2021, de autoria da escritora AZEVEDO, Judhit Azevedo Sares, cuja obra elucida muitos dos dados históricos de nossa gente. Desculpem-me pelo erro histórico.

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